NÃO HÁ LÓGICA MAIS INARGUMENTÁVEL E LOUCA QUE A DOS FANÁTICOS OBCECADOS.
O processador sempre foi considerado o “cérebro” do computador. No alvorecer da “era PC”, as pessoas se referiam a seus aparelhos pelo modelo da CPU — acrônimo de Central Processing Unit, que designa o chip principal, e não o gabinete, como muita gente ainda parece achar.
Assim, fulano tinha um “386” (referência ao chip Intel 80386); sicrano, um “Pentium 200” (alusão aos 200 MHz, que correspondem a 200 milhões de ciclos por segundo); beltrano, um “K6 II” (modelo da AMD que precedeu o Athlon e concorreu diretamente com o Pentium II), e assim por diante.
Naquela época, a diferença entre um 386 e um 486, ou entre um Pentium 100 e um Pentium 200, saltava aos olhos, e os usuários sabiam que ter mais MHz significava aplicações rodando mais rápido. Mas isso mudou quando os fabricantes introduziram inovações como coprocessador matemático, cache de memória e multiplicador de clock em seus microchips. Em tese, quanto maior o clock, melhor o desempenho; na prática, duas CPUs operando a 3 GHz realizam 3 bilhões de ciclos por segundo, mas o que cada uma é capaz de fazer em cada ciclo é outra história.
Hoje, raramente ouvimos alguém dizer que tem um “Core i7-13700K”, por exemplo. Mesmo quem não domina as sutilezas do hardware sabe que a quantidade de RAM, o tipo de armazenamento (SSD ou HDD) e a placa gráfica são igualmente importantes — ou até mais, pois as CPUs modernas dão conta da maioria das tarefas cotidianas. Um chip Core i3 atual, por exemplo, supera com folga os Intel Pentium III — que eram “a última bolacha do pacote” em 1999 —, mas o desempenho do aparelho como um todo pode ser limitado pelo armazenamento ou pela quantidade de memória RAM disponível.
Como vimos anteriormente, depois que os celulares se tornaram verdadeiros microcomputadores ultraportáteis, os desktops e notebooks foram relegados a situações que exigem telas de grandes dimensões, teclado e mouse físicos e mais “poder de fogo” do que a maioria dos smartphones medianos é capaz de oferecer. No entanto, ao escolher um celular ou tablet, as pessoas costumam se ater ao tamanho da tela, ao armazenamento interno e, em menor medida, à quantidade de memória RAM e à capacidade da bateria (lembrando que 10% dos brasileiros sofrem de nomofobia). Embora seja o "regente da orquestra, o processador raramente é lembrado, e músicos competentes podem mascarar a inépcia de um maestro chinfrim, mas nem André Rieu proporciona um bom espetáculo sem a contrapartida de cada integrante de sua orquestra.
No âmbito dos celulares, o chip Snapdragon 8 Gen 3 e o Snapdragon 8 Gen 3 for Galaxy estão entre os mais utilizados. Eles fazem basicamente o mesmo que as CPUs dos desktops e notebooks, mas o segundo foi desenvolvido especialmente para equipar os Samsung Galaxy S25 e Z Fold 7 (lançados no início deste ano). Já o primeiro chegou ao mercado em outubro de 2023 com foco em turbinar a inteligência artificial em smartphones e tablets premium com sistema Android, como o Galaxy Z Flip 6 e o Asus ROG Phone 8 Pro. Em meados deste ano, a Qualcomm lançou duas variantes mais modestas do Snapdragon 8 Gen 3, com apenas 6 núcleos (em vez de 8), voltadas a aparelhos intermediários.
Para não errar, tenha em mente que escolher um celular só pela aparência ou pelo número de câmeras é como escolher um carro pela cor. A ficha técnica está ali por um motivo, e entender pelo menos o básico sobre três itens — processador, memória RAM e armazenamento interno — pode evitar gastos desnecessários e eventuais arrependimentos. Já vimos que o processador tem impacto direto na velocidade, fluidez e capacidade de multitarefa do aparelho.
Em linhas gerais, quanto mais núcleos, mais tarefas simultâneas podem ser realizadas; e quanto maior a frequência, maior tende a ser a velocidade de execução. Mas isso não quer dizer que um chip octa-core (8 núcleos) seja necessariamente melhor que um hexa-core (6 núcleos), já que geração do processador também entra na equação. Chips mais modernos tendem a ser mais potentes e eficientes, mesmo com menos núcleos ou frequência inferior à de modelos antigos, além de consumirem menos energia e, consequentemente, gerarem menos calor.
A memória RAM é responsável por manter os aplicativos funcionando sem engasgos. Quanto mais RAM, melhor a experiência de uso — especialmente para quem abre várias abas do navegador, usa redes sociais, jogar ou assiste a vídeos ao mesmo tempo. Para tarefas básicas (WhatsApp, navegador, YouTube, redes sociais), 4 GB ainda dão conta do recado, mas o mínimo recomendável hoje é 6 GB (se seu bolso permitir, invista num modelo com 8 GB ou mais).
O armazenamento interno também segue a velha regra do “quanto mais, melhor”. Prefira um aparelho com 128 GB ou 256 GB (ou mesmo 512 GB, se o orçamento permitir). Evite modelos com 64 GB, mesmo que haja suporte a cartões microSD — recurso, aliás, cada vez mais ausente. Lembre-se de que uma parte considerável do armazenamento é ocupada pelo sistema operacional e pelos aplicativos pré-instalados pelo fabricante (crapware), que só podem ser removidos por meio de um processo conhecido como "root" (mais detalhes nesta sequência). Fotos, músicas, vídeos e outros arquivos volumosos podem até ser transferidos para o PC ou para a nuvem, mas isso já é outra conversa.
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